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Resenhas de artigos 

Atividade física moderada em um ambiente aquático durante a gravidez (Estudo SWEP) e sua influência na prevenção da depressão pós-parto
Maria José Aguilar-Cordero 1, Juan Carlos Sánchez-García 2, Raquel Rodríguez-Blanque 3, Antonio Manuel Sánchez-López 4, Norma Mur-Villar 5


    É senso comum que as mulheres ficam com os hormônios à flor da pele durante a gravidez e que eles promovem diversas alterações morfológicas e funcionais durante esse período. Mas, sabia que também há alterações psicológicas? Estas alterações são inatas e todas as mulheres passam por isso devido ao aumento da concentração de hormônios para garantir uma gestação saudável. Porém, às vezes, essas alterações, ainda que fisiológicas, fazem com que o organismo experimente a exacerbação dos sintomas depressivos, podendo levar ao desenvolvimento de uma condição conhecida como: DPP – depressão pós-parto!

 

 Mesmo com o tabu de que “depressão é frescura”, os autores do artigo “Moderate Physical Activity in an Aquatic Environment During Pregnancy (SWEP Study) and Its Influence in Preventing Postpartum Depression” propõem um desenho experimental para combater esse mal antes mesmo que ele apareça, a fim de zelar pela integridade física e mental das mamães.


    Neste artigo, Aguilar-Cordero e seus colaboradores nos informam que a DPP é uma doença que afeta de 10 a 15% das mulheres na 6° semana pós-parto, e sua ocorrência está correlacionada ao IMC (Índice de Massa Corporal). Já falamos do IMC aqui em outras resenhas e talvez você se lembre de que este índice pode ser um indicador de saúde pois ele estabelece uma relação entre o peso e a altura de uma pessoa. Pois é, gestantes com sobrepeso ou obesidade de graus I, II e III são mais propensas a sofrerem com DPP, devido à sua composição corporal.


    Uma das alternativas mais eficazes para prevenção da DPP e outras doenças relacionadas à gestação, é o bom e velho exercício físico. A constância na prática de atividades físicas bem planejadas, pode auxiliar no bem-estar físico e mental. Sabendo disso, os autores deste artigo levantaram uma hipótese: exercícios físicos moderados em ambiente aquático a partir do sexto mês de gestação podem diminuir o risco de DPP. Após o Comitê de Ética em Pesquisa da província de Granada aprovar a pesquisa, os pesquisadores dirigiram um ensaio clínico randomizado e controlado com 65 gestantes no Grupo Estudo (GE), e 64 gestantes do Grupo Controle (GC), todas na faixa etária de 21 a 43 anos de idade. Enquanto o GC teve apenas um acompanhamento médico, sem a prática de exercícios físicos, o GE praticou exercícios aeróbios moderados na piscina, entre a 20ª e 37ª semana da gravidez. Os exercícios foram praticados três vezes por semana, com duração de 60 minutos. 


    As sessões aconteceram da seguinte forma:
Aquecimento: etapa de preparar o corpo das mulheres para o esforço físico da atividade.
A fase principal: sessão de exercícios aeróbios seguida de exercícios de força e resistência, na piscina.
Alongamento final: etapa de relaxamento.


    Durante a sessão principal, os pesquisadores utilizaram a percepção das participantes para manter o exercício em intensidade moderada. A percepção foi quantificada pela escala de Borg, em que a métrica numérica varia de 6 a 20, sendo 6 (nenhum esforço); 13 (um pouco difícil); 20 (esforço máximo). Portanto, todas as participantes tinham que relatar um esforço entre 12 e 14 para o exercício ser considerado moderado. Quando a participante relatava esforço diferente do intervalo definido, a intensidade do exercício deveria ser ajustada até voltar aos valores estabelecidos.


    As participantes seguiram este protocolo até o nascimento do bebê, e antes da 6° semana pós-parto, foram submetidas à Escala de Depressão Pós-Natal de Edimburgo (EPDS) para avaliar os sintomas depressivos. Esta escala consiste em um questionário composto por dez perguntas curtas, cada uma com quatro alternativas de resposta, e cada resposta tem uma pontuação, por exemplo: se a participante entender que a resposta “não” é a melhor para aquela pergunta, será somado o total de 0 (zero) pontos. Caso ache que “na maioria das vezes” se aproxima mais da resposta, será somado 1 (um) ponto. Se “sim”, 2 (dois) pontos, e “com certeza”, 3 (três) pontos. Desta forma, ao final do questionário, os pesquisadores puderam quantificar as respostas e colocá-las em uma escala, em que a partir de 16 pontos já havia indícios graves dos sintomas depressivos, e quanto mais próximo de 30 pontos, mais severo era o quadro clínico.


    Após obterem os resultados da pesquisa, os pesquisadores analisaram o IMC dos grupos GC e GE após o período de teste, para identificar se esta variável apresentou relação significativa com o número de pontos obtidos por cada participante, para responder à hipótese inicial. Entre o primeiro e terceiro trimestre, o grupo GE obteve um ganho de 8,28 kg, enquanto o segundo grupo (GC), 11,26 kg, fazendo com que a diferença de 2,88 kg aproximasse mais as gestantes do grupo controle da obesidade grau I. Após o parto, este valor se refletiu no IMC final, que demonstrou que sim, o Índice de Massa Corporal está relacionado à DPP, visto que 38 mulheres do GC (59,37%) apresentaram risco de desenvolver a doença, contra apenas 14 do GE (21,54%). Portanto, o exercício físico moderado em um ambiente aquático proporciona sim menor risco de desenvolvimento da DPP, enquanto as mulheres sedentárias estão mais suscetíveis a desenvolver a doença.


     O mais legal é que outros estudos citados na discussão apresentada neste artigo corroboram os resultados obtidos pela pesquisa. Esta discussão é de extrema importância para criar um parâmetro de análise dos resultados obtidos, visto que em outro estudo citado, mulheres que apenas praticam exercícios de baixa intensidade, também apresentaram uma pontuação baixa na EDPS, indicando que a prática periódica de atividade física contribui para menor risco do desenvolvimento de sintomas depressivos. Além disso, em um estudo feito com 1.053 mulheres, a prevalência da DPP foi de 18,5% nas mulheres com excesso de peso, de 18,8% nas mulheres com obesidade classe I, de 32,4% nas mulheres com obesidade Classe II, e de 40,0% nas mulheres com obesidade Classe III. Desta forma, o IMC está nitidamente influenciando os índices altos de DPP.


     Em síntese, este trabalho contribuiu para o entendimento de que manter uma alimentação equilibrada e uma rotina de exercícios é benéfico em todos os estágios da vida. É necessário se exercitar! Gravidez não é doença, mas a falta de uma rotina saudável pode acarretar diversos malefícios, ainda mais quando a mãe está obesa, podendo fazer com que a criança desenvolva após o nascimento: dislipidemia, hipoglicemia neonatal e distocias no parto. E não se engane, ainda sabemos bem pouco sobre como os eventos que acontecem na gravidez afetarão a mãe e o bebê em suas vidas futuras. Por isso, se cuidar, também é sinal de proteção com os seus!

GLOSSÁRIO 

Estudo randomizado: consiste em uma seleção dos sujeitos da pesquisa de forma aleatória.

Comitê de Ética em Pesquisa:  é um colegiado interdisciplinar e independente, de relevância pública, de caráter consultivo, deliberativo e educativo, criado para defender os interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos.


Referência bibliográfica

AGUILAR-CORDERO, María José et al. Moderate Physical Activity in an Aquatic Environment During Pregnancy (SWEP Study) and Its Influence in Preventing Postpartum Depression. SAGE, Granada: Journal of the American Psychiatric Nurses Association, 28 fev. 2018.

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