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bAte-papo
sobre obesidade infantil
O time ECO Kids conversou com a Profa. Fabriny Paulino, egressa do curso de Educação Física e Saúde da EACH-USP, instrutora de pilates, fitness e personal trainer. O nosso bate-papo foi sobre o impacto que a obesidade na infância pode ter na vida do indivíduo. Esperamos que essa conversa ajude você a compreender melhor a obesidade infantil e suas consequências.
Poucos estudos na literatura analisaram a relação entre obesidade infantil e desenvolvimento cognitivo, no entanto, existem dados que apontam o prejuízo no desenvolvimento cognitivo de crianças obesas, principalmente se o desenvolvimento da obesidade ocorrer nos primeiros anos de vida, quando as conexões entre cérebro e comportamento estão sendo estabelecidas. Acompanhar de perto o desenvolvimento da criança na escola e em casa, principalmente na leitura e na escrita, pode ajudar na identificação de déficit cognitivo. Entretanto, é importante ressaltar que esta relação não é totalmente determinante e mais estudos precisam ser feitos sobre esse assunto.
Na sua opinião, a obesidade infantil pode afetar o desenvolvimento cognitivo das crianças?
Profa.
Fabriny
Criança com obesidade pode se tornar um adulto obeso?
Sim. Uma criança que desenvolve obesidade na infância aumenta suas
chances de ser um adulto obeso, uma vez que o desenvolvimento da celularidade adiposa na infância pode ser determinante nos padrões de composição corporal de um indivíduo adulto. Porém, se a obesidade for controlada durante a infância, com a adoção de hábitos de vida mais saudáveis, como por exemplo, alimentação balanceada e prática de exercícios físicos regulares, as chances de ser um adulto obeso são bem menores, principalmente em função do melhor controle do aumento
de peso corporal ao longo da vida.
Profa.
Fabriny
Como o isolamento social decorrente da pandemia da COVID-19
pode impactar a saúde das crianças?
As crianças da chamada geração alfa conheceram um mundo tecnológico bastante avançado. O uso de equipamentos eletrônicos que acontece desde os primeiros meses de vida, intensificou ainda mais com a chegada da pandemia da COVID-19. A quantidade de horas na frente das telas aumentou consideravelmente, e infelizmente, sabemos que esse estilo de vida acarreta diversos problemas para o desenvolvimento motor e psicológico. Do ponto de vista motor, crianças que já tinham um estilo de vida sedentário, agora se encontram em um sedentarismo extremo devido ao fechamento das escolas e a redução das atividades de lazer. Além do sobrepeso, que é um problema que acomete cerca de 36% das crianças brasileiras, temos um enorme prejuízo no desenvolvimento motor. É na infância que aprimoramos as capacidades motoras e desenvolvemos as habilidades motoras baseadas nos padrões fundamentais de movimento, como agachar, empurrar, puxar, locomover e girar. Restringir tais movimentos pode custar um preço alto para as crianças a médio e longo prazo.
Profa.
Fabriny
Que dicas você daria para minimizar os efeitos do isolamento social?
Uma forma de fazer isso é por meio da participação dos pais ou responsáveis. É importante que eles estimulem as crianças para realizar atividades físicas mesmo no ambiente doméstico. Grande parte das escolas adotou a educação remota durante a pandemia, inclusive nas aulas de Educação Física, em que os professores propõem diversas atividades adaptadas para o espaço de casa. Além disso, outros locais como o Sesc, disponibilizam aulas gravadas de exercício físico em casa para todas as idades, o que pode ser um bom incentivo para ninguém ficar parado durante esse período. Porém, no caso das crianças, a presença e o incentivo dos pais são fundamentais para que elas se sintam motivadas a largar o celular e fazer alguma atividade com desafio psicomotor.
Profa.
Fabriny
Como você conversaria sobre obesidade com as crianças sem afetar a autoestima delas?
A obesidade e a gordofobia andam juntas. As crianças obesas crescem
ouvindo que são gordas demais. Nós, profissionais da saúde e a população em geral, temos muito o que aprender ainda sobre esse tema. É preciso ter cuidado na abordagem, principalmente com crianças que podem arrastar pela vida os traumas de ser uma criança gorda. Acredito que não devemos focar no corpo gordo, mas sim nos hábitos de vida da criança. Independente do peso corporal, é recomendado que toda criança tenha uma alimentação saudável, balanceada e equilibrada para o seu biotipo, assim como é recomendado que todas tenham um estilo de vida fisicamente ativo. Precisamos incentivar os pais para levarem os filhos para brincar ao ar livre, deixar a criança experimentar diversos esportes para que ela possa escolher algo que lhe agrade mais. Precisamos incluir mais alimentos naturais e evitar os industrializados, principalmente nos primeiros anos de vida, e jamais focar na alimentação com propósito estético. A perda de peso deve ser resultado de um estilo de vida mais saudável e não o objetivo principal para ser atingido.
Hoje sabemos que uma criança obesa pode apresentar também carências nutricionais. Você acha que o consumo de alimentos ultraprocessados pode ser um dos determinantes disso?
A obesidade apresenta um caráter multifatorial, incluindo fatores históricos, ecológicos, políticos, socioeconômicos, psicossociais, biológicos e culturais. Certamente o consumo de alimentos hipercalóricos e nutricionalmente pobres pode colaborar para isso. Infelizmente a indústria alimentícia se cala diante desse fato, e pior, investe na propaganda para crianças de alimentos ultraprocessados e cheios de açúcares refinados como sendo alimentos saudáveis e nutritivos. O consumo desse tipo de alimento tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas, um dos fatores que justifica o aumento da obesidade infantil. Estudos mostram que as crianças da América Latina se alimentam pouco de alimentos naturais e muito de alimentos industrializados e processados. É preciso inverter essa lógica e fazer coro ao famoso slogan “descasque mais e desembale menos”.
Profa.
Fabriny
Profa.
Fabriny
É com essa ideia que queremos terminar essa entrevista. E já que um exemplo vale mais que 1000 palavras, convidamos vocês mães e pais a também descascarem mais e desembalarem menos. Saúde!
Entrevistada: Profa. Fabriny Paulino
Contato profissional: @fabrinypaulino
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